Sábado / La Merda: Em Almada, um Monólogo Apresentado por Uma Actriz Despida
by Rita Bertrand, Sábado _ A Merda (La Merda, no original italiano), sobe ao palco do Teatro Joaquim Benite no sábado, 21 de Maio _
Há quem diga que é preciso muito dinheiro para fazer um bom espectáculo, mas A Merda (La Merda, no original italiano), que o Teatro Joaquim Benite, em Almada, recebe este sábado, dia 21, prova o contrário.
A peça poética e escatológica de Cristian Ceresoli, que em 2012 ganhou tudo o que podia no Fringe (o festival alternativo de Edimburgo) e coleccionou distinções (do público, imprensa e crítica) em Itália, é só com uma actriz, Silvia Gallerano, e não tem figurinos (até ela, no fim, se embrulhar numa bandeira de Itália) nem cenografia, além de uma plataforma metálica, onde, de batom vermelho e microfone na mão, conta, na primeira pessoa, a história da vida maldita de uma jovem disposta a tudo. Ao mesmo tempo, percorre a História do país, relacionando as teorias anticonsumistas de Pasolini com alusões aos Camisas Vermelhas de Garibaldi, ao fascismo e à corrupção da era Berlusconi.
“Ela é capaz de tudo para atingir a fama, mas ao mesmo tempo é humana. A nossa intenção é contar a sua história sem a julgar, tentando sentir empatia por ela e reconhecendo que há uma parte dela em todos nós”, explicou ao GPS Silvia Gallerano. A nudez, sublinha, “não é para chocar”: “Há mulheres nuas por todo o lado, com objectivos comerciais, mas quando é num palco a censura aparece, mesmo nos países ditos democráticos.”
No início, nenhum teatro queria a peça na sua programação, por causo do conteúdo escatológico que o título imediatamente sugere. Depois, o Fringe premiou-a e tudo mudou. A grande surpresa, para Silvia, foi o sucesso além-fronteiras: “Verificámos que as pessoas não entendiam que a peça era sobre a Itália. Descobrimos que foca questões que afectam, profundamente, toda a gente. Infelizmente, no que é mais negativo, e tal como aconteceu tanto no passado, a Itália tem sido a vanguarda.”
Despojada de preconceitos e de roupa (portanto, assumidamente vulnerável), a actriz interpreta o monólogo como se fosse um longo poema sobre o dia-a-dia. Coisas simples como dormir, comer e defecar cruzam-se com tudo o que ela conta que faz para agradar aos outros, afinal o grande desejo desta personagem sequiosa de amor e atenção, que aos 13 anos assistiu ao suicídio do pai.
“Podemos sentir nojo, mas no fundo percebemos porque é que ela está disposta a fazer tudo aquilo e nem tem vergonha de o admitir – e é isso que mais nos assusta”, garante a actriz italiana, que anda a interpretar este papel há cinco anos. E sem se cansar: “É tão desafiante que não tenho tempo para me aborrecer… e creio que é para continuar, porque infelizmente A Merda não retrata um episódio fugaz, mas uma época em que estamos presos.” Todos nós.
A Merda – La Merda
Teatro Joaquim Benite, Almada
Sáb., 21/5, 21h30
€6,50 a €13